Um tocante exemplo do que o FSM deixa de concreto está aqui.
" (...) Em Porto Alegre, num prédio grande, verde, na Vila Nossa Senhora Aparecida, no bairro Sarandi, Nelsa Nespolo e outras 25 sócias da cooperativa Univens trabalham no ramo de confecções. A Univens é uma das consequências da política de economia solidária. Os olhos de Nelsa, uma das fundadoras e coordenadora desta cooperativa, brilham quando começa a falar do início de tudo.
Foi em 1996, ela e outras mulheres da vila costuravam para fora e se organizavam para melhorar o lugar onde viviam. Então, veio a decisão de juntarem as forças. Foi o que fizeram, cheias de ilusão. Mas ilusão mesmo, porque em seguida descobriram como é difícil tocar um negócio. Cada uma das 35 fundadoras entrou com três cotas de R$ 1. Os R$ 105 foram engolidos só pelo registro na Junta Comercial. Encomendas não confirmadas, a descoberta de cada detalhe burocrático, o ideal parecia sucumbir ao desastre. Mas o ano de 1997 surgiu como o grande momento. O sindicato dos metalúrgicos pediu 500 camisetas. Enfim, dinheiro para ser dividido, e a partir daí o trabalho passou a se consolidar.
Mas onde o Fórum entra nesse processo? Bem, as costureiras já haviam provado que o nome escolhido estava correto: Univens significa "Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos". No evento de 2005, lá estavam elas, produzindo.
Naquele ano, ocorreram dois fatos importantes: o Fórum deu origem à primeira plenária da economia solidária e encomendou 60 mil sacolas de algodão orgânico para distribuir a seus participantes. Pronto. A Univens iria decolar para um novo estágio.
O aprofundamento de fórmulas foi bem discutido, e pelo fio do algodão as gaúchas do bairro Sarandi começaram a tecer uma rede que as ligou a gente de outros Estados. Estava criada a Justa Trama, uma cadeia de cooperativas reunidas para a produção de manufaturados feitos à base desse material. A força do trabalho coletivo chegava a sua forma mais elaborada, uma conexão nacional. Hoje, o algodão colhido no Ceará passa pela fiação e tecelagem em Minas Gerais e faz estágios em São Paulo (produção de roupas infantis), Santa Catarina (artesanais) e aqui no Sul, em Porto Alegre (roupas em série). E ainda há a ponta de Rondônia, onde botões e adereços são produzidos de sementes.As mulheres de Porto Alegre têm razão para sorrir como Nelsa no lufa-lufa de todos os dias. São testemunhas do sucesso construído por elas, a partir de uma alternativa social baseada na possibilidade de decidir conjuntamente sobre o que fazer, como fazer, a garantia de só deixar o emprego se quiserem e a certeza de uma distribuição igualitária dos rendimentos. Elas se sentem valorizadas e aplicam em ações sociais na vila muito do que conseguem com seu trabalho. O lugar onde vivem precisa ser saudável e evoluir. Esta é outra das verdades que aprenderam nessas conversas dos fóruns e que uma pandorga voando baixo um dia transformou em realidade".
Trecho de "O espólio do Fórum"
Texto: MAURO TORALLES/ ZH
Foto: TADEU VILANI
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